Pesquisar este blog

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

A HERANÇA DE MEU PAI

A Maior Herança: A Memória de Meu Pai



É estranho. Difícil acreditar que não posso mais vê-lo, que agora restam apenas lembranças. As pessoas, no esforço de me consolar, dizem:

— Ele sofreu muito, descansou...

Mas dentro de mim, algo não aceita. Por que você precisa ser assim? Por que ele não poderia ter melhorado? Ao mesmo tempo, me pergunto: quem sou eu para contestar os planos de Deus?

Se há algo que meu pai me deixou, foi nossa amizade. E isso, eu guardo como um tesouro. Lembro de uma noite específica, uma das mais marcantes que reunimos. No dia 23 de outubro de 2006 , levei meu pai ao HUGO . Enquanto estávamos no hospital, conversamos muito. Ele estava animado, como sempre, mesmo diante das situações.

Fomos bem atendidos, e lembro com precisão dos dados porque era véspera do segundo turno das eleições para governador. Ele até brincou com a médica, dizendo que queria ir embora logo para poder votar. Ficamos no hospital até por volta da 1h da madrugada . Ao sairmos, ele me disse que estava com fome.

Lembrei de um Pit-Dog que ficou aberto até altas horas, em frente a uma delegacia no Jardim Nova Esperança . Fiz questão de dar uma volta só para passarmos por ali. Foi um momento só nosso. Apesar da situação, ele estava feliz. Conversamos sobre tudo: o passado, o presente e até feitos planos para o futuro. Meu pai ainda era um sonhador.

Ele dizia, com todas as letras, o orgulho que sentia de mim . Mas no fundo, tudo o que ele queria era um pouco mais de atenção. Eu brincava, dizendo que ele não passava de uma criança de quarenta e poucos anos. E ele realmente era assim! Quando aprontava alguma — e como aprontou esse danado! — a gente chamava sua atenção, mas ele não se magoava. Pelo contrário, ouvia, refletia e tentava melhorar .

Mesmo com sua partida, ele continuou me ensinando. Me fez abrir os olhos. Me fez perceber o quanto minha mãe também precisa de mim. Não apenas do meu apoio financeiro, mas da minha presença, da minha atenção, do meu cuidado.

E, por fim, ele me deixou um tesouro. Um caderno , onde anotava os acontecimentos mais importantes de sua vida. Ele o chamou de "Minhas Crônicas" . Tudo está registrado: o nascimento dos filhos, os lugares onde morou, trabalhou, as alegrias e as tristezas que viveram.

E assim, ele me deixou a maior herança que poderia ter me dado: sua memória.

Por Marcos Lamounier

Nenhum comentário:

Postar um comentário